segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Comparação entre as sociedades açucareira nordestina e mineira do século XVIII



-Açucareira


A sociedade da região açucareira dos séculos XVI e XVII era composta, basicamente, por dois grupos. O dos proprietários de escravos e de terras compreendia os senhores de engenho e os plantadores independentes de cana. Estes não possuíam recursos para montar um engenho para moer a sua cana e, para tal, usavam os dos senhores de engenho. O outro grupo era formado pelos escravos, numericamente muito maior, porém quase sem direito algum. Entre esses dois grupos existia uma faixa intermediária: pessoas que serviam aos interesses dos senhores como os trabalhadores assalariados (feitores, mestres-de-açúcar, artesãos) e os agregados (moradores do engenho que prestavam serviços em troca de proteção e auxílio).

Ao lado desses colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos, funcionários e comerciantes.


A sociedade açucareira era patriarcal. A maior parte dos poderes se concentrava nas mãos do senhor de engenho. Com autoridade absoluta, submetia todos ao seu poder: mulher, filhos, agregados e qualquer um que habitasse seus domínios. Cabia-lhe dar proteção à família, recebendo, em troca, lealdade e deferência. Essa família podia incluir parentes distantes, de status social inferior, filhos adotivos e filhos ilegítimos reconhecidos. Seu poder extrapolava os limites de suas terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a vida colonial. A casa grande foi o símbolo desse tipo de organização familiar implantado na sociedade colonial. Para o núcleo doméstico convergia a vida econômica, social e política da época.


A posse de escravos e de terras determinava o lugar ocupado na sociedade do açúcar. Os senhores de engenho detinham posição mais vantajosa. Possuíam, além de escravos e terras, o engenho. Abaixo deles situavam-se os agricultores que possuíam a terra em que trabalhavam, adquirida por concessão ou compra. Em termos sociais podiam ser identificados como senhores de engenho em potencial, possuindo terra, escravos, bois e outros bens, menos o engenho. Compartilhavam com eles as mesmas origens sociais e as mesmas aspirações.


O fato de serem proprietários independentes permitia-lhes considerável flexibilidade nas negociações da moagem da cana com os senhores de engenho. Eram uma espécie de elite entre os agricultores, apesar de haver entre eles um grupo que tinha condições e recursos bem mais modestos.


Esses dois grupos - senhores de engenho e agricultores -, unidos pelo interesse e pela dependência em relação ao mercado internacional, formaram o setor açucareiro. Os interesses comuns, porém, não asseguravam a ausência de conflitos no relacionamento. Os senhores de engenho consideravam os agricultores seus subalternos, que lhes deviam não só cana - de - açúcar, mas também respeito e lealdade. As esposas dos senhores de engenho seguiam o exemplo, tratando como criadas as esposas dos agricultores. Com o tempo, esse grupo de plantadores independentes de cana foi desaparecendo, devido à dependência em relação aos senhores de engenho e às dívidas acumuladas. Essa situação provocou a concentração da propriedade e a diminuição do número de agricultores.


Existiam também os lavradores, que não possuíam terras, somente escravos. Recorriam a alguma forma de arrendamento de terras dos engenhos para plantar a cana. Esse contrato impunha-lhes um pesado ônus, pois em cada safra cabia-lhes, apenas, uma pequena parcela do açúcar produzido. Esses homens tornaram-se fundamentais à produção do açúcar. O senhor de engenho deixava em suas mãos toda a responsabilidade pelo cultivo da cana, assumindo somente a parte do beneficiamento do açúcar, muito mais lucrativa.


Nesta época, o termo "lavrador de cana" designava qualquer pessoa que praticasse a agricultura, podendo ser usado tanto para o mais humilde dos lavradores como para um grande senhor de engenho, conforme explica o historiador americano Stuart Schwartz.


No século XVI o açúcar tornou-se o principal produto de exportação brasileiro. Apesar da atividade mineradora do século XVIII e da concorrência do açúcar produzido nas Antilhas, essa posição manteve-se até o inicio do século XIX. Em todo esse tempo, segundo Schwartz, "houve tanto bons quanto maus períodos e, embora o Brasil nunca recuperasse sua posição relativa como fornecedor de açúcar no mercado internacional, a indústria açucareira e a classe dos senhores de engenho permaneceram dominantes em regiões como Bahia e Pernambuco."


- Mineira


"Ouro branco! Ouro preto! Ouro podre! De cada ribeirão trepidante e de cada recosto De montanha o metal rolou na cascalhada Para fausto d’El-Rei: para a glória do imposto Que restou do esplendor de outrora? Quase nada: pedras....templos que são fantasmas ao sol-posto." Manoel Bandeira - Ouro Preto - Lira dos 50 anos


Podemos dividir os efeitos da descoberta do ouro sobre o Brasil colônia em três grandes dimensões; o primeiro deles é de ordem geo-administrativa, na medida em que deslocou em definitivo o centro da atividade econômica e o aparelho político-administrativo para o eixo centro-sul do país. Rio de Janeiro tornou-se em 1763 a capital do Vice-reino devido a supressão do Estado do Maranhão e sua integração ao Estado do Brasil, formando ambos uma nova entidade político-administrativa. Estimulou a fixação da população, que até então vivia, como já foi dito, tal um caranguejo preso ao litoral ou como erráticos nômades vagando aos bandos pelos sertões e pradarias do país . Minas Gerais tornou-se, por sua vez, um ponto de partida para a ocupação de outras regiões até então desertas de civilização, como o Goiás e o Mato Grosso. Foi lá também que se gerou o primeiro complexo urbano composto pelas vilas auríferas e diamantíferas, fazendo nascer uma sociedade diferenciada da que existia no Nordeste ou em São Paulo. Demograficamente, segundo Contreras Rodrigues, deu-se o maior salto populacional até então visto: de 300 mil habitantes em 1690, para 3.250.000 em 1798!


Economicamente representou a formação do primeiro mercado interno do Brasil colonial. Até então, toda a produção - açúcar, tabaco, algodão, e produtos de extração diversos - tinha destino externo. Como as terras ao redor das minas eram estéreis, os alimentos custavam fortunas. Estimulou isso a expansão da criação do gado para corte e para carga, fazendo com que vastas regiões fossem transformadas em estâncias de criação, desde Campinas em São Paulo, até Vacaria e Soledade no Rio Grande do Sul. Foi também para abastecer as minas que surgiu a indústria do charque, ao redor de 1780, na área de Pelotas, espalhando-se para o vale do Jacuí, no RS. O Rio de Janeiro tornou-se o principal porto do país, simultaneamente o maior mercado escravista da colônia e exportador de mineral precioso. Nunca se importaram tantos escravos de uma vez só como no auge da exploração aurífera, entre 1730-50., fazendo com que , juntamente com os pardos escravizados, atingissem ao total de l.581.000, ou 48,8% da população existente!


Social e culturalmente fez com que surgisse pela primeira vez no Brasil colônia uma classe média de artesãos, de profissionais das minas, de comerciantes e funcionários, de militares, de artistas e músicos, além de uma poderosa plutocracia que enriquecera com o ouro. Foram eles que esboçaram, ainda que fracassada, a primeira tentativa de independência do Brasil. Os seus intelectuais e poetas tiveram atuação marcante na vida cultural das Minas Gerais, mesmo que temática e esteticamente dependentes do movimento arcadiano europeu. O barroco mineiro, estilo predominante na construção de casas, de igrejas e de palácios, tem sido apontado como a mais bela herança dos tempos do ouro.


A maior crítica feita à descoberta é a de que bem pouco do ouro sobrou para o Brasil. Ou, como disse o poeta, restou-nos "Pedras....templos que são fantasmas ao sol-posto". Gastou-se em escravos e oferendas religiosas, capelinhas e igrejas. Ao contrário de outras regiões do mundo, onde se descobriram minas valiosas, como na Califórnia em 1848-9; na Austrália em 1851; na África do Sul em 1886; e no Alasca, em 1896, não provocou a emergência de uma sociedade fabril. No Brasil, o ouro veio e foi-se com o vento. Alguns responsabilizam o Tratado de Methuen, assinado por Portugal com a Inglaterra em 1703; outros, ainda, o decreto antiindustrial da rainha D. Maria I, de 1785, que vedava a instalação de manufaturas na colônia. A resposta a essas questões encontra-se em Portugal e não só no Brasil

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